domingo, 22 de agosto de 2010

Subterfúgio

Antibiótico, antitérmico, antidepressivo, antialérgico, antigripal, antiinflamatório, antirrábica, antioxidante, antiobesogênico, antitumoral, antiviral, anticoncepcional, antifúngico, antietanol, anticoagulante, anticonvulsivo, antidiarréico, antibacteriano, antiemético, antimicótico, antpsicótico, antipirético, antitranspirante, antitussígeno, atirretroviral...

Antivocê.
Antivocê.
Antivocê.
Antivocê.
  Antivocê.  

domingo, 18 de julho de 2010

Desavergonhado

Fora das condições normais de reter nos meus olhos o mundo em preto e branco, esbarro entre as paredes, me perdendo na simetria das coisas palpáveis do agora. Entorpecida de nós dois. Tecendo uma fantasia, como quem debulha seus próprios sentidos da forma mais perfeita e nua. Vejo-me na parte onde bem me tocas e te trago nas ternas e cálidas lembranças, que atrevidas manipulam o ar... Insistente a fugir.

Palavras tornam persistentes os sentimentos e povoam meu riso desatado, enquanto a razão busca a compreensão do que temos. Esse trânsito, entre o explicável e o que se é, fracassa. Se perde na minha boca muda... Incapaz de destrinchar o que o cérebro percebe, mas... Perspicaz e desavergonhado, prefere deixar escondido.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Branco


Com ares de um ar rarefeito
Suave a brancura, ajeito
Madrigais a despertar
Me sento e minha alma levanta
Aplana meu eu e se encanta
De um quase poder vislumbrar
Me sinto lá e cá todo instante
Da calma oscilo ofegante
Com branco tecer e pintar
Macio algodão que me envolve
Doçura teu branco devolve
Impuro a me fascinar

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Brechó Particular

Às vezes é preciso desocupar o coração. Passar a limpo, varrer as
traças, desentulhar... Perceber que, na medida em que vivemos,
mobiliamos um órgão aonde deveria haver sempre um espaço amplo a ser
preenchido. Afinal de contas, tantas coisas boas podem surgir de uma
hora para outra, assim, num piscar de olhos. E lá está o pobre todo
entulhado de velharias empoeiradas. Conspirando contra si próprio, com
placa de “ocupado”, alimentando imagens, odores e sensações, que não
deveriam ser os primeiros da fila.

E assim acontece... Em mil novecentos e guaraná de rolha, tomei
picolé, no banco da praça com o Pedro. Pronto. Lá vai o acento
comprido para dentro. E pior, o tal do Pedro permanece sentado nele.
Casei-me com João, no começo dos anos dois mil, quando se acreditava
que o mundo iria acabar. Desde a roupa do primeiro beijo, até a última
caixa que saiu do caminhão depois da separação... A gente traz tudo
para o íntimo e deixa guardadinho. Entretanto, conservar os fatos não
é o nosso calcanhar de Aquiles. O Darth Vader de nós mesmos é a
insistente mania de mantermos tudo ali, intacto. E desta forma,
vivemos “debruçados no passado, como tolos esperançosos” e deixamos de
enxergar a beleza do novo, que bate a nossa porta quando a tal da
esperança pode trabalhar em paz.

Apesar de compreender que ruminar é preciso e traz auto-conhecimento,
é necessário o reencontro com o fio da meada interior, o que culminará
numa faxina. Para, a partir daí, traçarmos os paralelos entre o
dolente pretérito impalpável e a bem-aventurança das lacunas em
branco. As memórias são formadas com base no conjunto de experiências
vivenciadas e, de acordo com especialistas, interferem diretamente no
funcionamento do sistema nervoso, que é formado por cerca de 100
bilhões de neurônios. Os receptores sensoriais (células experts na
recepção de informações) transformam tudo o que captamos em atividade
eletro-química, influenciando as células nervosas, que compartilham
entre si os signos absorvidos, formando uma rede imensa, mas não
interminável, de projeções.

Pouco surpreendente é o fato de que “a ausência de estimulação
ambiental em períodos críticos do desenvolvimento podem levar à morte
celular”, como bem descreve o artigo de Gilberto Fernando Xavier,
professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo e do aluno André Frazão Helene. O estudo
complementa, ainda: ”experiências novas geram ativações que contribuem
para a formação de novas conexões; estas serão somadas àquelas já
existentes, tornando-se assim um novo "nó" de ativação da rede a
partir de um nó anterior”.

Então, por que teimamos em boicotar nossa rede, reduzindo as
possibilidades de novas articulações celulares? De onde vem essa
necessidade de mantermos objetos subjetivos do passado e, volta e
meia, passearmos entre eles? Por que não organizamos o nosso brechó
particular? Talvez seja importante avaliar como e porque sua cabeça
arquivou um determinado fato. A memória de longa duração para ser
permanentemente arquivada, promove modificações bioquímicas em
diversas regiões cerebrais. Aí, basta se perguntar: em que momento da
vida, você definiu que o pacote deveria ser engolido inteiro e a seco?
E como ficou estabelecido que isso se demoraria em você,
teimosamente... Guardando a mesma forma e conteúdo, como se fora
presente o que está passado?

A memória operacional, aquela que usamos para gravar um número do
telefone do gatinho, rapidamente no meio de uma festa, é previa e
sabiamente delimitada. Nela o esquecimento é programado. Isso prova
que existe uma luz no fim do túnel. Talvez, esse desafio contra si
próprio possa ter motivado Michel Gondry a expelir a necessidade de
se reprogramar. No entanto, na vida real não existe a hipótese de
apagarmos trechos vividos, dos quais mais se deseja a concórdia
proveniente do distanciamento. Sustentamos o brilho eterno de uma
mente fulgurada de lembranças. E, persistentes, mas nada malandros,
vamos deixando a mobília criar poeira.  Desta forma, acabamos
mergulhados em falácias e, quando submersos, não identificamos o ponto
onde termina uma coisa e começa outra. Não enxergamos onde há
circunstâncias para que a vida sorria todos os renascimentos e os
neurônios multipliquem suas fórmulas milagrosas de ativação do bem
químico em nós.

Nosso poder de registrar está ligado a fatores internos. À atenção que
se dispensa a algo, à motivação, que produz certo comportamento, e à
afetividade emocional. Defronte a esse grupamento de coisas, é vital o
asseio. Para não cairmos em ciladas constituídas por nós mesmos.
Entender os processos, reiventar os métodos, rabiscar a tabela dos
prazos e perceber sua individualidade cognitiva e afetiva. Se recriar.
Monitorar a si mesmo pode ser uma medida chave, que conciliada a um
back up íntimo pode nos reestruturar. Ecoa como maior deficiência,
diante dessa nossa obscura faceta, a auto-sabotagem. Não devemos
cerrar os olhos e perder o interesse pela vida nem pelo mundo. Além
disso, vamos tratar de jogar fora todo Memoriol B6 que a mamãe manteve
no armário da cozinha, pois, neste caso, mas vale ser um desmemoriado.
Então, suma com a Gingko Biloba também. Fica a dica. Para que o
coração respire aliviado.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Delícia

Sentir o ar faltar aos pulmões
E a cabeça a rodopiar encantamentos
A boca emudecida à espera
De tanto que falam os pensamentos
Brotam rios inteiros entre vales
Uma escola inteira passa na avenida
E os impulsos levitam soltos
Livres e leves a despertar a vida

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Reconhece-te, crisálida
E vê nascer tuas asas
Que a imensidão não se finda
E o tempo te abraça

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sono

Vem repousar no meu seio
Escapulir por entre os dedos do mundo
Deixa teu sono varrer os segundos
Ganhar a eternidade dos tempos

Para que, amigo, o instante permita
Banhar meus olhos com toda sua graça
Vívida doçura que enlaça
Meus ais, meus sais, meu sangue

Vem cerrar, de manso, teus olhos
No mais quando a noite revela
Vem, que teu sono desvela
O que de ti mais frágil se apresenta

Arde, enquanto dormes, uma beleza
E meu atrevimento sequer ousa
Dizer do anjo que ali repousa
O nome da jóia a que se coteja

Andarilho, o tempo em mim esbarra
Num instante generoso e desmedido
E eu ali, num impulso contido
Muda, a fitar-te dormindo