terça-feira, 28 de abril de 2009

Novo
Da última vez que me olhei no espelho, tive da fria superfície, que refletia minhas retinas desgastadas, a luz de constelações inteiras. E por de trás da cintilação aquele azul assombroso de proporções desconhecidamente vastas. Entre um bem e um repúdio, as vistas alumiam e quantificam brilhos.
Sabe a imensidão que toda sua fulgência provém delas. Que o pacto instituído entre o ar, as moléculas e os raios é balela. Elas asseveram seu propósito maior e sua existência sem igual, para que, dada a necessidade, venham nos presentear com toda sorte de amor ou de felicidade.
As estrelas endossam sonhos e enaltecem amores. Devido a permanente beleza, têm o poder de desconstruir solidões, com mãos etéreas que afagam os cabelos dos impuros e dos tristonhos, lhes fazendo crer que é possível retomar a vida. Revelam que, mesmo compostas por fluídos infinitamente compressíveis, embora nobres, mas ainda sim gases, podem empunhar uma configuração especialíssima. E serem estrelas. Cantadas, admiradas, intimativas e fortes.
O universo ressabiado as conhece bem. E não teimando em vacilar com nenhuma delas, se realiza em somente ser seu pano de fundo. Encerra seu mistério ostentando a glória de ser sua
preciosa retaguarda.
No meio do gigante marinho e dos corpos celestes, ganhei minha prenda. Não zombo do guarda-costas das purpurinas celestiais. Apenas vejo todos como fazem de meus olhos suas moradas. Insistentes a desvelar enigmas e deixar rastros de fulgor em mim.

sábado, 25 de abril de 2009

Vento No Areal


Por ater-me ao teu encanto vejo desmoronar minhas dunas, contemplativas de toda razão e lógica que, por vezes, puderam sustentar-me inteira e sã. Você, como o vento que apavora os grãos, infundiu pavor ao meu bom senso causando a fuga da minha complacente serenidade.
Tuas naturais vestes de cor trigueira, que meus olhos, na indissolúvel lonjura, apenas sonham ousar sabê-las, saculejaram meus sentidos que hoje deslocam-se na tua intensão, somente.
És o ar em movimento a transgredir e remontar histórias, compostas por pequenos afagos, pequenos ósculos e pequenos segredos, marcados pelo nunca de um não poder existir. E que no tocante de sua inexistência tende a agigantar os desejos, a corroer-me as entranhas e é onde me faço inerme.
Entrego-me à ventania para ser tomada por sua aragem, a despir-me e encorajar-me num impulso à vida que pretende, doce e irraigada, não se deixar dissipar.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Desencontro

De que forma me tomas a pele
E marca tua afronta na derme que é minha?
Quando eu me permitira um canto novo
Esbarro em teu silêncio, que em meu peito se aninha
Parece meu querer assim tão pouco
Que pode esvair-se em nada o desejo que me tinhas?
Ou será que na procura por teus beijos
Ainda encontro tuas pegadas, na rua onde caminhas?

domingo, 12 de abril de 2009

Luz

Sinto como tocas meu desejo
Embora em outro continente
Meus ouvidos cedem aos apelos
Das palavras ditas entre os dentes

Boca, nuca, mãos e pernas
Tomadas pelo desconforto
De um quase que não se liberta
De um desejo atracado ao porto

Aflijo-me diante do querer insano
Por buscar sua textura me encanto
E me arvoro sem medo de errar
Sigo atordoada o rastro do seu cheiro
Dispondo minha boca que aguarda o teu beijo

E meu corpo por ti a implorar.

domingo, 5 de abril de 2009

Dedos na Tomada

Ando um pouco chocada e deveras preocupada. Hoje me consterna saber que poderia ter feito a diferença entre os 49.17% que, por tão pouco, não elegeram o ex-hippie e ex-candidato à prefeitura da cidade do Rio, Fernando Gabeira. Como dizia vovó, sobre o leite derramado já não se pode mais chorar. Muitos viajaram, outros foram à praia, alguns simplesmente não queriam ou não tinham candidato. Eu vaguei entre a última opção e um compromisso religioso. E pronto: fez-se a caca. O mau cheiro se espalha pelo temor da indagação. Do tipo de questionamento que você não fez quando resolveu driblar as condições adversas e convidar aquele cara pra sair (hoje ele é seu marido e pai dos seus filhos). Ou na ocasião em que decidiu que ia tentar o vestibular mais uma vez (e passou na terceira tentativa). Mas eu, como muitos, me pergunto: o que teria acontecido se...? Pois é, o compromisso era sério e a vontade de votar inversamente proporcional. E o grande engodo que é nossa democracia? Isso contribuiu para que, de uma hora pra outra, a cidade tivesse seus dedos grudados na tomada. Se minha percepção está cambeta segue do mesmo modo minha crença nessa Prefeitura.“Choque de Ordem” é um bom nome. Tenho que concordar. Fiz segundo grau técnico em publicidade. Mas o que está oculto, o que se pode saber dessas entrelinhas? De acordo com o G1, “nos cinco primeiros dias de operação Choque de Ordem da nova prefeitura do Rio, foram apreendidos 230 toneladas de material e lixo. Desde às 5h de segunda-feira (5), 257 moradores de rua foram acolhidos, cerca de 1,3 mil veículos multados e 280 rebocados.” Minha cabeça já anda caducando ao questionar esses números. Pensando... Para casa de quem foi tanta muamba apreendida? Por que é tão difícil identificar o elemento causador da desordem e combatê-lo? Quão penoso é pegar o dinheiro arrecadado em impostos e realizar as verdadeiras benfeitorias governamentais que não constituem em si um mero favor à sociedade? Dissuadir as crianças e jovens da torpe idéia, antes semeada, de que para concluir as mais importantes etapas da vida é preciso apenas tirar uma medíocre nota 4.0? Quando vão abrir e romper com acordos responsáveis pela imoral tarifa dos transportes urbanos? Em que ocasião um cidadão extremamente adoentado vai dirigir-se a um hospital e encontrar um tomógrafo funcionando? Pode tratar-se de um bom nome, mas talvez não seja eu seu público alvo. Contudo, polianamente, rogo à Prefeitura: choquem-me!